Duas mulatinhas acordavam às 7h para poder assistir aos zenzimados.
Às 8h a avó já tinha o pão com manteiga e o leitinho com chocolate.
Era ver TV até dizer chega no nosso ninho, o sofá grande.
A avó depois de adiantar as tarefas da casa ia sentar-se no ninho dela ao nosso lado a ler o jornal ou revista e a ver os programas da manhã.
Quando dava na TV música brasileira ou africana pedia que dançássemos, ela ria-se com as netinhas de rabo empinado, mão na cintura a rebolar até ao chão. Chamava a todos da casa para ver.
As manhãs eram sempre em volta dela a correr pela casa e a ajudá-la a secar a roupa, pôr a mesa, ir com ela à mercearia.
Os almoços eram os caprichos das mulatinhas, arroz com feijão e frango assado, pataniscas de bacalhau, rissóis de carne e antes sempre a sopinha mais saborosa do Mundo com broa especial para a Titi. As sobremesas eram também delicias, frutinha da quinta, doces que ela preparava com tanto amor ou aletria que eu sempre ajudava a fazer.
O caldo verde era quase todos os dias! Ela chegava a fazer mais que uma sopa por dia para que os outros não se chateassem e eu tivesse o meu caldo verde.
E assim passava meses tão, mas tão mimada em volta dos meus avós.
Nas férias sempre tinha as visitas ao médico para ver se estava tudo ok, ela achava que éramos muito magrinhas (LOL), acho que todos os avós pensam isso e nos entupia de comida.
E o frio! Para ela o facto de virmos de África, sentíamos muito frio, logo nós passávamos o verão de casaco ao ombro ou de fato treino. Para nós era tudo indiferente pois estávamos no paraíso.
Por volta das 9h era hora de ir deitar, conversávamos um bocadinho, olhava a foto da minha mãe com as tranças até à cintura e contava-nos historias dela quando chegou a Portugal aos 17 anos brava que nem bicho do mato ou das travessuras do meu pai em pequeno enquanto bebíamos leitinho no biberão, isto até aos 12 anos! Fui a bebé dela até aos 12 anos!
Depois do leitinho dizíamos o Boa noite Vovó Boa noite Jesus.
E assim terminava mais um dia repleto de mimos da melhor avó do Mundo.
Destes anos também fizeram parte tios maravilhosos que nos passeavam por todo o Portugal e mimavam muito.
Primos foram nascendo durante os anos, e cada vez a festa era maior. No quintal dos avós fazíamos viagens no imaginário a Cabo Verde.
"Casaco minha": A Titi não sabia ainda falar bem e misturava português com crioulo, então havia um casaco do Bubu (nosso avó) que ela adorava. Ela queria sempre o casaco minha (casaco dimeu em crioulo). Chegava a Portugal, entrava em casa e pedia "quero o casaco minha". A avó guardou o casaco até a Titi estar com 18 anos :)
Tão lindo =)
ReplyDeleteLembro-me bem de ir brincar convosco para casa dos avós. Anteontem fui lá e quando vi o quarto em que vocês costumavam ficar nem acreditei que fosse o mesmo...parecia tão grande na altura, dava espaço para tanta coisa...!
Aquela casa guarda muitas memórias, mas felizmente são memórias que também estão em cada um de nós, filhos e netos. A avó esteve presente ao longo das nossas vidas e nunca deixou de se preocupar com todos nós e com muitos mais. Falou-se muito da generosidade da avó nestes últimos dias. Quero acreditar que também cada um de nós contribuiu para a sua felicidade e bem estar.
Espero que continuemos unidos a ela e entre nós por memórias como esta que descreveste. E como se costuma dizer, enquanto nos lembrarmos dela, a avó estará viva em cada um de nós.
Saudades vossas, saudades dos velhos tempos e saudades da família toda junta.
Beijinhos, Bé *
Boas recordações...:) Esqueceste-te de referir o vosso maior trauma: mesmo no Verão tinham de secar o cabelo com secador!
ReplyDeleteBeijinhos
Zezinha